Aprender a ler engloba duas diferentes capacidades: a primeira é a de decodificar as letras para formarem palavras e frases; a segunda é um processo de aprendizado permanente, que consiste em atribuir significado ao texto lido e compreender diferentes tipos de textos.
A maioria dos currículos escolares de concepção tradicional tem uma maior preocupação com a leitura oral (que diz respeito exclusivamente a decodificação das letras) e com o rigor ortográfico e menor preocupação com o desenvolvimento global do processo de leitura e escrita.
O ato de ler, no entanto, desenvolve outras capacidades importantes: além da decodificação das letras há a interpretação de símbolos e significados, bem como a percepção e o aprendizado de novas linguagens. Um texto não é representado apenas por seus símbolos, mas também pela visão de mundo de quem lê.
A autora francesa Michele Petit (2008, p. 20 – 22) apresenta duas vertentes referentes a leitura: uma delas é marcada pelo poder concedido ao texto escrito, e a outra pela liberdade de interpretação do leitor, ampliado por suas peculiaridades e subjetividade, ou seja, cada leitor interpretará o mesmo texto de maneiras distintas. Se, por um lado um texto escrito aproxima pessoas que leem a mesma história, por outro, às distancia pela interpretação individual do que foi lido. A liberdade do leitor em interpretar o conteúdo lido de forma única e peculiar, de acordo com suas experiências e história de vida, contribui para a construção da subjetividade e do si-mesmo.
É sabido que, com o avanço da tecnologia cada vez menos a população lê, especialmente os jovens em idade escolar, e a interpretação de texto é uma das maiores dificuldades que percebo nos estudantes hoje em dia.
Deixo aqui três dicas para ajudarem as crianças e jovens nesta tarefa:
*Em um primeiro momento, os estudantes que dizem odiar ler também precisam ser acolhidos. Provavelmente eles ainda não encontraram nesta tarefa uma potência. Quais são suas capacidades então? Procure nomeá-las e junto com o estudante. Valorize o que eles já sabem!
*Saber ler é saber contar o que leu então um bom exercício é que os jovens escrevam alguma história que já conhecem, ou leiam uma manchete no jornal e escrevam com suas palavras ou ainda contem aos familiares algo do cotidiano por escrito. Criar pequenos hábitos de leitura e escrita na rotina familiar podem ajudar.
*Se comunicar por escrito é um bom jeito de fazer com que os jovens leiam e escrevam. Que tal usar o grupo de whatsapp da família para isso? Ou brincarem com bilhetes na geladeira? Ou ainda mandarem cartas ou e-mails para amigos distantes?
Referências:
CONDEMARÍN, M; GALDAMES, V; MEDINA, A. Oficina de Linguagem. Módulos para desenvolver a linguagem oral e escrita. São Paulo: Ed Moderna, 1999.
NASPOLINI, A. T. Tijolo por tijolo. Prática de Ensino da Língua Portuguesa. Coleção Teoria e Prática. São Paulo:ED Ftd: 2010.
PETIT, M. Os Jovens e a Leitura: Uma nova perspectiva. Tradução de Celina Olga de Souza – São Paulo: Ed. 34, 2008
Four Teaching Moves That Promote A Growth Mindset In All Readers. Disponível em: <https://www.kqed.org/mindshift/47856/four-strategies-that-promote-a-growth-mindset-in-struggling-readers> Acesso em abril de 2018.
Imagem: Jovem menina leitora (Young Girl Reading) Pintura a óleo do artista Jean-Honoré Fragonard (1770) disponível em: https://artsandculture.google.com/asset/young-girl-reading/JgFJCH9wxBktkg?hl=pt-BR da coleção da National Gallery of Art, Washington, DC.
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