Por: Carolina Akerman
Ninguém nasce sabendo falar, o mesmo é para escrever.O desenvolvimento da linguagem ocorre de forma gradual e, aproximadamente aos cinco anos de idade, a criança já é capaz de falar adequadamente todos os fonemas da língua portuguesa. Nesta idade ela ingressa em outra importante fase de seu desenvolvimento: a aquisição da linguagem escrita. O domínio da escrita, como foi falado em post anterior, ocorre de forma semelhante e bastante dependente da linguagem oral. Neste processo, a criança conhece a relação dos sons da fala com seus símbolos gráficos (letras) e passa a reconhecê-los, por exemplo, em seu próprio nome.Nesse momento as trocas de letras tanto na leitura quanto na escrita poderão aparecer. Quando a criança inicia o processo de alfabetização apresentando trocas na fala (por exemplo: “pola” (bola), “tato” (dado), “faca” (vaca)), comumente ela transfere estes mesmos erros para a escrita. Isso porque nosso processo de alfabetização usamos a fala como apoio. É só lembrarmos como até hoje, quando temos dúvidas na forma correta da grafia de uma palavra, a pronunciamos em voz alta, na tentativa de transcrever o que ouvimos. Antigamente, todas as crianças que apresentavam uma alteração de fala, eram consideradas como tendo um distúrbio articulatório. Atualmente, não é mais assim, quando uma criança cuja queixa é a fala, é importante compreender e identificar as características e origem de cada alteração, para que desta forma, uma conduta terapêutica específica e apropriada seja planejada para cada caso que, não podemos esquecer, tem características únicas e peculiares e por isso deve ser analisado individualmente. São chamados Transtornos Fonológicos as dificuldades de fala, caracterizadas pela produção inadequada dos sons.Os idiomas possuem um repertório de fonemas (sons) que são adquiridos e aprendidos gradativamente pelas crianças. Dizemos que uma criança apresenta um Transtorno Fonológico quando não adquiriu os sons para se comunicar ou ainda quando apresenta trocas e omissões de sons na fala ou letras na escrita. Esta alteração pode gerar uma fala de difícil de compreensão, de grau variado. Quanto mais grave o transtorno fonológico, mais difícil será para entender o que a criança fala. Estas alterações geralmente interferem no rendimento escolar, profissional e na comunicação social. Quais trocas então são próprias do caminho de desenvolvimento da criança e com quais devemos nos atentar? No caminho da aquisição da linguagem, as seguintes trocas são comuns:
Trocar o Ca por Ta: caiu: “taiu”: até 3 anos; Trocar o Ga por Da: gato: “dato”: até 3 anos; Trocar o Ta por Ga: tatu: “gagu”: até 3 anos e meio; Trocar o R por L: morango: “molango”: 3 anos e meio/4 anos; Trocar o cha pelo sa: “Suva” para chuva: até 4 anos e meio; Omissão de encontros consonantais: blusa: “busa”; prato: “pato”: até 6 anos e meio/ 7anos;
Precisamos nos atentar, no entanto, se forem constantes e persistentes as trocas conhecidas como ensurdecimentos (fonemas sonoros que passam a ser produzidos como fonemas surdos, ou seja, a criança deixa de fazer a vibração laríngea) porque a criança não percebe a sutil diferença entre dois sons da fala que são produzidos da mesma maneira, tendo como única diferença a vibração ou não da prega vocal. O som do fonema /f/ e o som do fonema /v/, são produzidos por nós quando posicionamos os dentes superiores, sobre o lábio inferior e sopramos “FFFFFFFFFFF, VVVVVVVVVV” .Se fizermos os dois sons e mantivermos a mão encostada no pescoço, perceberemos que ao produzir o V, as pregas vocais vibram, o fazendo parecer mais forte. O mesmo acontece entre o P e o B, o T e o D, o S e o Z, C de casa e o G de gato e o som do X e do J.
Exemplos de trocas de fonemas surdos:
V por F: “ufa” para uva; “faca” para vaca; G por Ca: “cato” para gato; “calo” para galo; B por P: “pola” para bola; “pepê” para bebê; D por T: “teto” para dedo; “tato” para dado; Z por S: “cassa” para casa; “assul” para azul; J por Ch/X: "chanela" para janela;
É importante lembrar que apenas profissionais especializados podem diagnosticar possíveis transtornos. E o melhor que podemos fazer para ajudar as crianças em crescimento e aquisição da linguagem oral e escrita é falarmos os sons corretamente.
FONTES: Vygotsky LS. Pensamento e linguagem. São Paulo:Martins Fontes;1989. https://www.almanaquedospais.com.br/trocas-na-fala-se-nao-…/ http://www.atrasonafala.com.br/meu-filho-fala-elado.html http://direcionalescolas.com.br/…/trocas-de-natureza-audit…/ http://www.ofluminense.com.br/…/revi…/desvio-fonol%C3%B3gico
<acesso em março 2018>
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